Fazia noite gelada. Como o costumam ser todas as primeiras noites de Inverno. Um porquinho cor-de-rosa, um ratito do campo e um gato zarolho tinham combinado uma partida de cartas com o dálmata da vizinha, mas ele não tinha aparecido. O frio mordia-lhe os ossos, preferia ficar em casa. O porquinho cor-de-rosa era um sujeito entendido, permitia-se a gostar de astronomia e a outras suínas excentricidades, que lhe haviam ficado dos tempos que passara na universidade. Sentia-se entediado, e quando lançou os olhinhos piscos ao céu tinha pouca esperança de ver esfumar-se o aborrecimento que lhe atava os pés. O gato zarolho lamentava que três não fossem suficientes para jogar às cartas, enquanto se enroscava sonolento. O rato era o único que se mantinha bem disposto, devia andar apaixonado, e por isso corria e saltava mais do que o seu normal. Isto irritava sobremaneira o porco, que era um apreciador da tranquilidade, mas a sua diplomacia impedia-o de protestar. O rato pulava e cantarolava, o zarolho entreabriu o único olho de que dispunha, e por momentos, quase se deixou vencer pelo seu mais recôndito ímpeto felino, que a distinção e o sono haviam já empurrado para longe. Bufou-lhe apenas. Mas foi o que bastou para assustar o pobre rato, que se atirou de imediato ao pescoço do porco. A surpresa fê-lo então arregalar os olhos, e depois levantou-se nas quatro patas. Reparou que ao fundo havia uma estrela muito brilhante, enorme, na qual nunca antes havia reparado.
segunda-feira, 24 de dezembro de 2007
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