quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Diz a rapariga para o rapaz I

Tens a capacidade de dizer coisas que me magoam. E não há necessidade disso, meu amor.

domingo, 14 de dezembro de 2008

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Da chave (ou Deus não existe I)

Deus não existe. mas há-de ser grande e luminoso como uma abóbora. oxalá.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

domingo, 9 de novembro de 2008

Das borronas

Hoje tenho o corpo escrito.

sábado, 1 de novembro de 2008

Das palhinhas douradas

A palha tem uma cor que faz lembrar o meu cabelo. Disseram-me que os passarinhos constroem ninhos de palha. Mas eu. Que já vi muitos ninhos de passarinhos na cidade. sei que eles também são feitos de cabelos. A palha arranha-me as mãos e põe-me vermelho à sombra da pele. A palha pica e faz comichão. A palha não cheira muito bem. Mas foi bom cheirá-la. Expirando-lhe primeiro antes de lhe provar o aroma. Como já vi fazer aos cães. Como se fosse eu, também, um cão que te espera. A guardar para dentro a vontade de abanar a cauda. para o André e para a Circolando que têm hoje em Guimarães um espectáculo cheio de palha. para os ninhos onde queremos ficar.

Dos fantasmas

Porque hoje é um dia em que as pessoas se devem lembrar dos vivos. e dizerem-lhes. gosto de ti. para o valter. que me ensinou a dizer esta e outras coisas.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Dos vampiros

dá jeito abraçar antes de morder

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Das coisas que se descobrem I

eu ao lado da sabrina no mub. para ver aqui o resto. de um fim-de-semana com boas recordações. o Coelho Juvenal agradece a João Mota a indicação da toca onde se escondiam estas meninas. a Eva agradece-lhe também.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Dos pássaros

hoje. pedi a um avião que te trouxesse.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Da chuva

hoje está um dia lindo para correr à chuva e chapinhar nas poças. hoje está um dia lindo para ficar com o corpo molhado. até que os ossos se desfaçam também eles em líquido. até que não importe mais de onde a água vem. até que toda eu me dissolva em nevoeiro, feita numa mistura de hagás e ós que brincam felizes como se não houvesse o tempo. hoje está um dia lindo para correr para casa e ficar a ouvir o som da água que enche a banheira. até que eu, que sou o nevoeiro, me funda com o vapor que enche a casa de banho. e dance com ele. até que eu, que sou uma mistura feliz de hagás e ós, me envolva na espuma branca embriagada de cheiros. e me deite com ela. e copule com ela. enquanto deixo que me possuam devagar. numa orgia de muitas móleculas com éne graus de liberdade, que me prendem, enquanto me penetram tantos poros como os que tenho no corpo. molhado. hoje está um dia lindo. cheio de sol.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

e é lá que tu estás

Há por aí muitas pessoas que não sabem em que penso, nem mesmo de que existo, mas mesmo assim fazem questão de me lembrar que a Itália existe. (Quando a Eva acabou de escrever esta frase, o Juvenal deixou que as orelhinhas lhe caíssem lentamente sobre os olhos. e suspirou. antes de adormecer.)

domingo, 28 de setembro de 2008

Eu, o banco, e a ausência de ti

um rapazinho bonito. uma rapariga. primeiro o rapaz estava lá sentado, com o computador nos joelhos, e a rapariga olhou. a rapariga gostava de olhar para as coisas bonitas e sentia-se bem por estar num aeroporto. passava e via as coisas que passavam por ela e que também a viam. a rapariga entrou noutro avião. o rapaz também. a rapariga já não se lembrava disso. mas calhou de que os aviões deixaram o rapaz e a rapariga no mesmo sítio. a rapariga entrou num táxi. o rapaz também. o rapaz e a rapariga falaram. pelo meio houve dias que passaram. um dia a rapariga disse adeus ao rapaz. e teve de voltar ao aeroporto. as coisas viam a rapariga a passar e a rapariga viu o banco. então a rapariga quis sentar-se no lugar onde tinha visto o rapaz, e sabia bem que se não era mesmo aquele, era o que estava exactamente ao lado. era aquele quase de certeza. a rapariga sentou-se e pousou as coisas. respirou e pensou em ti.

Eu e o Juvenal fizemos sexo quando teve mesmo de ser

Pensei nisso quando estávamos os dois nas nuvens. Lembrei-me de repente que era perfeitamente possível que o avião caísse a qualquer momento. Pensei que não ficaria nada preocupada, porque afinal, a morte será sempre tão inevitável que não valeria a pena (num momento desses) estar a preocupar-me com isso. Depois de tricotar uma barreira de protecção contra a gritaria generalizada que se faria ouvir, ficaria calma, a pensar. Então lembrava-me de repente que também existia a possibilidade remota de não morrer. Poderia, pelo sim pelo não, dopar-me para além da dose recomendada, mas como não sei quais seriam os efeitos secundários de tal acção (e nesses, poderia muito bem estar incluída uma valente dor de estômago) também não valeria a pena. Valeria a pena tentar. Isso sim. Confesso que pensei primeiro (única e exclusivamente) em mim. Estava decidido (também por mim, claro está) que se era para cair, então haveria de ser no mar. Decidi isto quando vi que mesmo em frente aos meus olhos havia uma inscrição que dizia que estava um colete salva-vidas debaixo do meu banco. A primeira coisa que havia então a fazer era vestir o colete amarelo. E enchê-lo, mas só quando estivesse mesmo a saltar do avião (isto disse-me a senhora hospedeira, por isso, podem confiar em como é a verdade). Lembrei-me depois que caso não morresse da queda, e caso também não morresse de afogamento, poderia morrer de hipotermia. Nesse caso, devia vestir, mesmo antes do colete, tudo o que pudesse aquecer-me. Mas não tinha nada mais que o casaco. Nada mais além de papéis. Não são bons para aquecer. Excepto quando se queimam, mas isso, tendo em conta as circunstâncias, também não seria nada prático. De qualquer maneira, desde que o Luizinho Carvalho fugiu para parte incerta (o que é apenas uma maneira alternativa de dizer que se perdeu), que também não tenho isqueiro. O que não há escusa-se. Por isso, comecei finalmente a pensar naquilo que queria salvar (para além de mim, claro). O caderno de física, útil sem dúvida, não seria prioritário. O computador, seria demasiado difícil. Revia tudo mentalmente quando me lembrei do Juvenal. Também estava ali, e teria de continuar comigo. Mas onde levá-lo? As mãos livres, far-me-iam sempre uma falta que não poderia dispensar. O Juvenal teria de ir preso a mim. Hoje não trago soutien. Teria por isso de o levar nas cuecas. Havia então duas hipóteses. Ou a zona sacra do Juvenal ficava encostada à minha, ou ficava ao contrário. Se fosse assim, não teríamos de fazer sexo, mas já nos conhecemos os dois há tanto tempo, que também não via porque não o fazer. Foi assim que eu e o Juvenal fizemos sexo porque teve mesmo de ser. No fim, quando veio um bote recolher-nos da água e nos sentámos os dois abraçados a um cobertor, eu dei-lhe um beijo (porque nunca gostei das estórias em que se atiram sapos à parede), e foi então que o Juvenal se transformou num príncipe (muito bonito) e se casou comigo. Claro, pensam vocês, que também poderia dar-se o caso de não vir bote nenhum. Seria assim que, definitivamente e muito sumariamente, morreríamos. Também não haveria nisto problema algum. Estávamos, tão somente, fodidos. Escrito no voo Porto-Roma, com início às 9h35, e dedicado ao túmulo do sr. sade. que a sua lápide permaneça saudável e feliz durante muitos e muitos anos. 21-09-08

domingo, 14 de setembro de 2008

O Moderador ouviu dizer que não só mas também V

Numa palavra, o assassínio é um horror, mas um horror frequentemente necessário, nunca criminoso, que é essencial que seja tolerado num estado republicano. Mostrei que o Universo inteiro tinha dado o exemplo; mas será preciso considerá-lo como uma acção que merece ser punida com a morte? Aqueles que responderem ao dilema seguinte terão respondido à pergunta: o assassínio é ou não um crime? Se não é, por que razão devemos fazer leis que o punam? E se for, por que razão - bárbara e estúpida insensatez - o punireis através de um crime semelhante? Marquês de Sade, em Filosofia de Alcova, 1795

domingo, 31 de agosto de 2008

O Coelho Juvenal estica as orelhinhas porque ouve dizer a umas velhinhas que estas noites são ritual

Eu e o luís queremos pôr um nariz de palhaço na estátua do senhor que está no jardim das laranjeiras, ali ao pé do restaurante vegetariano e do abade priscos. Mais precisamente, eu quero pôr-lhe um nariz de palhaço, o luís diz que só disse isso por dizer. Pois que o senhor está sem nariz, disse-me também o luís, e eu pensei em restaurar-lhe um. Não tarda nada e vem aí o inverno mesmo antes do outono, e se o senhor de estátua se constipar, estando sem nariz, sofrerá de grandes obstruções nas vias respiratórias superiores, à excepção do nariz, que por se dar o caso de estar ausente, não poderá ficar entupido. Se o senhor de estátua tiver um nariz de palhaço poderá sofrer grandes obstruções nas vias respiratórias superiores, com inclusão do nariz, e assim poderá ir à farmácia comprar actifed e terá uma desculpa para descer do pesdestal. No caminho de volta, pode aproveitar para comprar uma embalagem de maços de lenços de papel, e assim passar o resto do inverno a assoar-se, em cima do pedestal, acenado com os lenços sujos, e pela primeira vez sem se sentir excluído, a todo o resto de rinito-sinusito-constipadeiros. Como lhe faz falta um nariz de palhaço. Eu e o luís fomos depois pregar para outra freguesia, mas não pregamos muito, porque nos esquecemos de levar um martelo. Estivemos a ouvir pessoas que cantavam e se mexiam nos palcos, e ouve ocasiões até, em que nós nos mexiamos e falávamos também. No final, eu senti que o lobo estava atrás de uma árvore, e ouvi-o dizer assim ao capuchinho: vem comigo e vais perceber. como é suposto isto acontecer. Para a sandra, patrocinadora oficial dos chás da alice.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

O Moderador ouviu dizer que não só mas também IV

O que eu queria era livrar-me desta casa, e andar, andar, andar e nunca mais voltar. Gabriel García Márquez, em O Amor nos Tempos de Cólera, 1985

terça-feira, 29 de julho de 2008

Os cães pretos na minha cabeça V

Preciso de adormecer os cães.

Os cães pretos na minha cabeça IV

Preciso de uma estratégia para momentos de crise. Preciso de um esquema. Preciso de setas. Preciso de gráficos.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Mensagem do Moderador III

O Coelho Juvenal, moderador deste espaço, crítico literário, veraneante gozando dos ventos de Julho, e doutor honoris causa pela Universidade dos Coelhinhos Felizes, vem por este meio anunciar, a toda a cidade de Bracara Augusta (mas não só ao alto da cividade) e arredores (entendendo-se aqui por "arredores" algo muito, mas muito abrangente), que: esta quarta-feira, às 21h30, na livraria Centésima Página, em Braga (Casa do Rolão, Avenida Central), valter hugo mãe, segundo informações do próprio e do Coelho Juvenal, conversa sobre o seu novo livro, o apocalipse dos trabalhadores. A conversa será orientada por António Rafael, dos mão morta. Após a apresentação do livro haverá um mini concerto dos cabesssa lacrau, com valter hugo mae (voz), António Rafael (teclas), Miguel Pedro (guitarra, também dos mão morta e mundo cão), e Henrique Fernandes (baixo, dos Mecanosphere). A entrada é livre, e o valter gostaria muito que fossemos todos. Vamos lá. Antes de nos arrependermos até ao fim dos nossos dias. E antes que esse fim chegue mais cedo pelo desgosto de não termos lá ido.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

O Moderador acha que vocês também vão querer lá estar

E eu tenho a certeza. Até porque a são mamede é uma galeria muito fixola, como diria a Isabel, e por isso, está aberta todos os dias, de segunda a domingo, das 10 da manhã até às 2 da outra manhã. Já não há desculpas. A não perder, até 10 de Agosto.

E nós estivemos lá

Eu e o Nuno r estivemos lá, na inauguração, e fomos os segundos e os terceiros a chegar. E o Nuno sentiu-se mal com tantas caras a olhar para ele. Mas gostou. E eu também gostei. E também gosto muito da Isabel. E ela sabe disso. Fotografias de Nuno Miranda Ribeiro e Eva Malainho.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

iLiKETRAiNS too

Não escreverei em inglês para que me entendas. porque também penso que será assim que me entenderás melhor. Não sei como te chamas. Sei que gostei primeiro da tua camisa branca. Depois da tua gravata. Preta. E do corpo que advinhei metido nelas. Pensei então em advinhar-te um pombo. Com uma mensagem a propor-te que te cassasses comigo. Mas pombos não os tenho. e para que um chegasse a ti terias de mo dar tu do teu pombal. Para que ele pudesse voltar-te. manda-me um dos teus. numa gaiola de vime entregue por um garoto da rua. diz-lhe que o entregue aqui. porque eu gosto de camisas brancas e de gravatas. e gosto de comboios. também. mub08 13-07-08

quinta-feira, 10 de julho de 2008

O Moderador ouviu dizer que não só mas também III

deixe-se lá disso do urbano-depressivo anti-social e do horror à gente do prédio e do "sou-o-vizinho-que-não-fala-com-ninguém-e-até-assusta-as-crianças-no-elevador" Rogério Nuno Costa, em A Oportunidade do Espectador - Fase'2 (The Curator's House), 9 de Julho de 2008 Nota do citador: O Coelho Juvenal ouviu ainda dizer que a Eva não é a vizinha que não fala com ninguém, isto porque, costuma dirigir a quem com ela se cruza um bom dia, uma boa tarde, ou uma boa noite, conforme seja dia, tarde ou noite, e também não assusta as crianças no elevador, tendo em conta que morando no primeiro andar, não precisa de andar de elevador. Já a partilhar de horrores à gente do prédio, pode dizer-se que estes sobem pelas paredes do próprio prédio, abraçam-no todo, e com a sua força pulsante, emanam de tal forma radiosa, que são até capazes de cobrir os arredores.

terça-feira, 10 de junho de 2008

A Eva brinca aos modelos fotográficos I

O evaguna tem o grato prazer de anunciar aos seus estimados leitores que as primeiras aventuras da Eva por detrás de uma câmara fotográfica já podem ser seguidas aqui. Fotografias de Alice Bernardo, para o nouss nouss. já ali.

O Coelho Juvenal vai ao psiquiatra I

Apercebo-me doutor de que nos últimos dias tenho desperdiçado muito tempo roendo a erva para que não me cresçam os dentes. Perceba que isto me constrange. A questão do desperdício de tempo. Fico dividido. Entenda que um coelho de peluche não tem dentes. Mas nada disto impede que a relva cresça. E depois é preciso cortá-la. É preciso que não me cresçam os dentes. O Juvenal fez uma pausa para respirar, fez com o nariz um movimento ascendente e descendente de coelho, e soergueu para o doutor os olhos negros de plástico. Disse-lhe. Entenda que preciso de uma droga. Para ficar feliz. Sobre quaisquer circunstâncias. E sem fazer qualquer esforço. O doutor girou a caneta entre os dedos, parou com as suas notas, e franziu o sobrolho para escutar melhor o coelho. E não me diga que essa droga não existe. Porque se não existe pode muito bem inventá-la. E não me diga que não pode inventá-la. E não me diga (não me diga mesmo, sei que estava a pensar nisso) não que diga que ainda depois de a inventar eu terei de fazer um esforço. O Juvenal fez outra pausa para respirar enquanto o doutor franzia mais o sobrolho. O Juvenal fez um movimento típico de coelho com o nariz, assim mexendo-o de cima para baixo. Os olhos negros do Juvenal piscaram duas vezes e a seguir ficaram mais brilhantes. Doutor, sei explicar-lhe que fazer um esforço é totalmente desnecessário e inútil. Outros coelhos não fazem, nunca fizeram, e não planeiam vir a fazer, esforço algum. Fui a muitas lojas que vendiam coelhos de peluche. Olhei bem para eles. Todos eram fofos e tinham um sorriso na cara. Então comprei alguns. Uns dois ou três ou quatro. Depois fiz um plano. Escolhi um coelho bem fofo e com um grande sorriso na cara. Esperei que chovesse. Quando começou a chover, esperei que chovesse mais. Quando já chovia muito fui ao parque e levei comigo o coelho. Abandonei-o num qualquer banco de jardim. Deixei-o sozinho durante toda a noite e no outro dia de manhã esperei que a chuva passasse e fui lá buscá-lo. O coelho tinha o pêlo e escorrido, frio e sem graça, uma das orelhas pendia mais para um lado do que a outra, e as patas estavam-lhe sujas. Mas o sorriso na cara continuava intacto. Sem que para isso ele tivesse feito algum esforço. Então peguei noutro coelho. Dei-o ao dálmata da vizinha. Que é um cão amigo, muito dado a brincadeiras com coelhos. Disse-lhe que brincasse à vontade com o coelho, muito sorridente também. Que lhe arrancasse uma orelha. Coisa que ele gosta. No dia seguinte de manhã fui visitá-lo outra vez e perguntei-lhe se se tinha divertido com o coelho que lhe tinha oferecido. Ele divertira-se imenso e foi buscá-lo para que eu o visse, trazendo-o apertado entre as mandíbulas. Tinha-lhe arrancado uma orelha, duas patas, metade da cauda muito fofa e os dois olhos. Então olhei bem para as órbitas sem olhos do coelho e reparei-lhe no sorriso. Impecável. Florescente. Sem esforço. O Juvenal fez aquela pausa típica para respirar mas não fez nenhum movimento com o nariz. Experimente doutor. Vá a uma dessas lojas que vendem coelhos de peluche. Dos fofos e sorridentes. Escolha um muito fofo e sorridente e leve-o para casa. Quando chegar a casa, deite o coelho numa marquesa de barriga para cima. Pegue num bisturi e aponte-o ao fundo da garganta. Depois espete-o. E faça-o deslizar muito devagarinho até ao fundo da zona pélvica. E depois arranque-lhe para fora. Todas as entranhas. Fofas de feltro. Devagar. Sem pressa. Quando o coelho estiver com as entranhas todas de fora, volte a cozê-lo. Ou não. Isso não será minimamente importante. Importante mesmo é que lhe verifique o sorriso. E voilà. Na cara. Estampadíssimo. Sem esforço. O Juvenal não fez nenhuma pausa para respirar e o doutor relaxou o sobrolho porque a consulta estava a chegar ao fim. Pois doutor que todos os esforços são inúteis, para impedir que a relva cresça. E depois há que cortá-la, para impedir que me cresçam os dentes. E depois fico dividido. Constrangido. Porque não tenho dentes para que me cresçam. Nem sorriso.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Os cães pretos na minha cabeça III

E ele tombou. com o mesmo som oco com que tombam as melgas. Porque dentro dele. já não havia nada.
Fotografia de Nuno Miranda Ribeiro.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Mensagem do Moderador II

O Coelho Juvenal, moderador deste espaço, pai de filhos, pai de filhas, mãe, avó, e coleccionador de ovos de madeira pintados, vem por este meio anunciar a imperdível festa russa, que se irá realizar no próximo dia 27 de maio, terça-feira, entre as 18 e as 21h, marcando (de bela e emotiva forma) o encerramento do ano lectivo de cursos livres e outras coisas que tais. Consta-se que a Eva andará por lá, passeando-se com uma sombrinha, e que privados nós desta nobre graça, quantos coelhinhos de peluche, quantos se atirariam ao rio. Programa das festas: Teatrinho I: Veraneantes, de A. Tchekov (Alunos do Curso Livre de Russo, dos Níveis I e III); Momento musical I: Musiquinha russa (Aluna do Curso Livre de Russo, do Nível II); Teatrinho II: Uma peça que não sei qual é de um autor que também não sei qual é (Alunos de Russo de licenciatura); Momento em que se bebe uma bebida com um aroma muito semelhante ao do álcool etílico, que pelos vistos é famosa na rússia, e que não é eristoff; Fim. Local das festas: Universidade do Minho, Campus de Gualtar, Complexo Pedagógico II, Sala 103. Fuso-horário: Já sabem. Isto e aquilo: Pois então. Aquilo e isto: Sim. Claro. Nada mais havendo a tratar: Пака!

sábado, 10 de maio de 2008

Os cães pretos na minha cabeça II

E sentiu de repente o receio grande de se ver sozinha. Depois percebeu que nada havia a recear. O silêncio evitava as perguntas. Podia simplesmente chorar. Dedicar-se exclusivamente a essa tarefa. Sem distracções. E afinal, pensava, não haveriam cordas que soubessem sozinhas abraçar-se-lhe ao pescoço. Não haveriam corpos que soubessem sozinhos pendurar-se-lhe por de baixo. Não haveriam outros ruídos surdos que não fossem os seus. Não haveria nada. As vértebras. Essas. Também não saberiam como estalar sozinhas. Os bancos não aprendem sozinhos como sair-se-lhe aos pés. Jazendo enfim. Não haveria nada a saber como acontecer. Um nada sozinho. Se não fosse ela a dar um impulso.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

sexta-feira, 4 de abril de 2008

O Moderador ouviu dizer que não só mas também II

agora já não guardo segredos estou de volta ao mercado de habitação talvez ainda se arranje um novo inquilino para o meu coração m.r.t. (Dona de muitas casas), A Naifa, em Uma inocente inclinação para o mal, 2008

sexta-feira, 21 de março de 2008

A Língua nos Dentes I

Vamos amar-nos como fazem os gatos. Tu mordes o meu pescoço e pela minha cara pensarás que estou zangada. Mexo a cabeça por baixo da tua boca. Quero mostrar-te os meus dentes. Mostro-tos. Mas tens os teus no meu pescoço. Respiras. Eu fico zangada. Vou gritar. Quando te separas de mim. Grito. Porque me arranhas. As minhas unhas não estão recolhidas. Olho para ti sem saber se te mordo. Estás calmo. Não te vou morder. Olho para ti. sem saber se te mordo. Amo-te. Até ao fim da noite. Amo-te assim. Com vontade de te morder. Respiras. Mordes-me o pescoço. E depois não sei. Depois vens numa noite e noutras não. E eu vou amar-te. até ao fim de todas elas. Vamos amar-nos. como fazem os gatos. até ao fim da noite. das noites. de todas elas. Quando for de manhã. podes ir-te se quiseres. podes passar um fim-de-semana fora. podes sair sem dizer se voltas. podes não voltar. Outros rondam o nosso jardim. Escolho alguns e deixo-os entrar. Tenho na barriga um filho de cada pai. Tenho na boca a vontade de te morder o pescoço. Tenho no corpo a vontade de te amar outra vez. Escolho alguns e deixo-os entrar. Tenho na barriga um filho de cada pai. Tenho na boca a vontade de lamber primeiro aquele que nascer de ti. Eu sei qual é. Eu vou saber. Tenho no corpo a vontade de te amar outra vez. Tenho na boca a vontade de te morder o pescoço. Tenho na barriga três corpos de gato. E as unhas deles não estão recolhidas. Tenho filhos na barriga. um de cada pai. E se nos encontrarmos outra vez e pensares que estou zangada. Vamos amar-nos como fazem os gatos. Vamos separar-nos. como eles fazem também. Tenho na barriga um filho de cada pai. Tenho no corpo a vontade de te amar outra vez. Respira. Mordes-me o pescoço.

domingo, 2 de março de 2008

Dos amigos

O Juvenal olhou bem para os olhos castanhos do Rogério e disse-lhe gosto de ti. Nunca antes tinha dito isto assim e talvez por isso tivesse os olhos molhados. Os olhos do Rogério nem sempre encontravam os do Juvenal e não lhe deixavam perceber tudo. Os olhos do Juvenal são de plástico mas nem por isso ele deixa de acreditar neles. Ele queria muito que o Rogério percebesse o que se estava a passar. Queria muito dizer-lhe que tudo era tão bonito e verdadeiro como o facto de ele próprio ter os olhos de plástico molhados. Há momentos em que o Juvenal desejava perceber muitas coisas. Desejava coisas diferentes. Na relva, alguns coelhinhos corriam e saltavam alegremente. O Juvenal deixou-se distrair por eles. Deixou enrolar uns instantes nos volteios deles. Achou que não devia chorar à frente do Rogério e não chorou. Depois ouviu o Rogério dizer-lhe sabes, às vezes gostava que a vida fosse simples, como a dos coelhinhos. O Juvenal olhou para o Rogério com os olhos de plástico menos molhados e disse-lhe baixinho eu também. Depois ficou a pensar um bocadinho. Afinal não sabia mesmo se gostava de ter uma vida simples como a dos coelhidos. Sabia só que gostava dos coelhinhos.

Não há mais hãs nem meios hãs

uai.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Hã III

Товарищ, olha bem para mim. mesmo sem me veres. quero-te que morras.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Hã II

Товарищ, não perguntes. sei que amanhã os pássaros vão estar do outro lado da janela. eles costumam procurar coisas na relva. eu olho para eles. às vezes. não perguntes. os pássaros não te procuram porque não estás lá espalhado. e eu sei disso. bem sei. não perguntes. os pássaros. comem minhocas. que vêm húmidas da terra. e não lhes resistem. eu ainda não as vi. mas sei que vivem lá. na terra. não perguntes. os pássaros às vezes cantam. ou talvez cantem todos os dias. eu vou estar de um lado da janela e os pássaros vão estar do outro. tu não vais estar em lado nenhum. mesmo que te procurasse na terra. não perguntes. pergunto-me eu. se as minhocas quererão ir com os pássaros. se os gatos os esperam porque gostam do sabor do seu coraçãozinho pequenino. e morno. como é. o coraçãozinho de um pássaro.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Hã I

sim. foi melhor ter-te dito. thank you for coming. green. purple. follow your square.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

O nuno g. e eu na rua mais estreita de Braga

sim. foi um bom domingo. Fotografia de Nuno Miranda Ribeiro.

O Moderador foi tirar coisas da gaveta I

E é assim que o evaguna entra no seu segundo mês de existência sem que seja cedo para começar a receber mensagens de São Valentim. E mesmo que ainda não seja dia de São Valentim. A Eva diz e o Juvenal apresenta. Um fado posto na caixa no correio. Rua do Capelão Ó rua do Capelão Juncada de rosmaninho Se o meu amor vier cedinho Eu beijo as pedras do chão Que ele pisar no caminho. Tenho o destino marcado Desde a hora em que te vi Ó meu cigano adorado Viver abraçada ao fado Morrer abraçada a ti. Frederico de Freitas e Julio Dantas Para o evaguna, de eduardo maragoto.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Um mascarado fora de Veneza

O Moderador ouviu dizer que não só mas também I

E não me sinto mal na minha companhia, divertimo-nos muito os dois, eu e eu. António Lobo Antunes, em entrevista à revista tabu, n.º 73, 2 de Fevereiro de 2008

Excursões queriativistas I

Ontem fui com o nuno g. e com o eduardo às lagoas de Bertiandos.
As árvores quiseram tomar um duche, e era talvez por isso que se tinham despido de folhas. Vi um pinheiro vestido de noiva e ovos de vespa dentro de úteros bogalhos. Estranhas formas de matrinónio e de maternidade.
Subimos a uma torre no meio da água. Descemos depois sem cair. Carpir. Carpia. Pia. Pia. Um passarinho. Ou dois. Um pato real e uma pata. A água a encharcar-me as calças e eu sem as querer tirar.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Da passagem de ano que como o ano passou

Pois aconteceu que apaguei o texto que mesmo agora tinha escrito. pois que fiquei triste. que não o consigo lembrar todo de cor. e onde arranjei coragem para voltar a escrever logo assim. depois de tentar o control z. depois de não funcionar. estava a divagar, como é meu costume. a falar de camélias, do meu bonsai que está doente, das minhas azáleas que não conseguem florir. das camélias que conseguem mas que eu não tenho. estava a falar do natal na rússia. que é hoje, no dia 7 de Janeiro. estava a dizer que lá já deve ser natal. se não me falhava o fuso horário. que ontem foi por cá dia de reis. não disse que não comi bolo-rei. estou a dizer agora. estava a dizer que não vinha falar de camélias, nem de natal, nem de reis. vinha mostrar um pouco da minha passagem de ano. dia eu. que isso já foi portanto no dia um. portanto outros dias passaram. eventualmente alguns. muitos. portanto em 1700. ainda nem havia computadores. estava eu a dizer. um blogue de metabolismo lento. como as camélias. estava a falar de ambição. de dar flores. Estive no ESPAÇO da censura prévia, com a clara, o gaspar, o luís, o amigo do luís, a maria, o nuno g., que foi dj, o nuno r., a sabrina e a sandra, deixamos passar a meia-noite a sério, mas depois inventamos uma.
Havia um bicho a aparecer na parede.
Ele não fazia mal.
Eramos muitos bichos na parede.