O Juvenal olhou bem para os olhos castanhos do Rogério e disse-lhe gosto de ti. Nunca antes tinha dito isto assim e talvez por isso tivesse os olhos molhados. Os olhos do Rogério nem sempre encontravam os do Juvenal e não lhe deixavam perceber tudo. Os olhos do Juvenal são de plástico mas nem por isso ele deixa de acreditar neles. Ele queria muito que o Rogério percebesse o que se estava a passar. Queria muito dizer-lhe que tudo era tão bonito e verdadeiro como o facto de ele próprio ter os olhos de plástico molhados. Há momentos em que o Juvenal desejava perceber muitas coisas. Desejava coisas diferentes. Na relva, alguns coelhinhos corriam e saltavam alegremente. O Juvenal deixou-se distrair por eles. Deixou enrolar uns instantes nos volteios deles. Achou que não devia chorar à frente do Rogério e não chorou. Depois ouviu o Rogério dizer-lhe sabes, às vezes gostava que a vida fosse simples, como a dos coelhinhos. O Juvenal olhou para o Rogério com os olhos de plástico menos molhados e disse-lhe baixinho eu também. Depois ficou a pensar um bocadinho. Afinal não sabia mesmo se gostava de ter uma vida simples como a dos coelhidos. Sabia só que gostava dos coelhinhos.
domingo, 2 de março de 2008
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário