sábado, 10 de maio de 2008
Os cães pretos na minha cabeça II
E sentiu de repente o receio grande de se ver sozinha. Depois percebeu que nada havia a recear. O silêncio evitava as perguntas. Podia simplesmente chorar. Dedicar-se exclusivamente a essa tarefa. Sem distracções. E afinal, pensava, não haveriam cordas que soubessem sozinhas abraçar-se-lhe ao pescoço. Não haveriam corpos que soubessem sozinhos pendurar-se-lhe por de baixo. Não haveriam outros ruídos surdos que não fossem os seus. Não haveria nada. As vértebras. Essas. Também não saberiam como estalar sozinhas. Os bancos não aprendem sozinhos como sair-se-lhe aos pés. Jazendo enfim. Não haveria nada a saber como acontecer. Um nada sozinho. Se não fosse ela a dar um impulso.
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