quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Da Fontana di Trevi

Hoje, no dia em que por coincidência faço vinte e seis anos e três meses, declinei oficialmente a posição que a partir de 1 de Janeiro de dois mil e dez poderia mudar a minha vida. Sim, hoje estou um pouco triste. E por coincidência, hoje acordei a sonhar contigo. Vinhas a Portugal visitar uma menina que tinhas conhecido aqui numa praia. Mas não, eu sei que nunca cá vieste. Eu sei disso. Tu é que não sabes que a fita verde da nossa senhora da baía continua atada à chave do meu quarto. E já que não sou eu, devia ser ela a ditar que te voltasse a ver. Como a moeda de 5 cêntimos com cara de coliseu. Joguei à melhor de três e Braga ganhou 2-1. Grande merda. Hoje faço vinte e seis anos e três meses. Exactamente. Hoje declinei. Oficialmente. Hoje penso. que devia ter posto o raio da moeda na fonte. Hoje tenho saudades da Roma que não conheço. Hoje é como se lá nem tivesse estado. Saudades tuas? Não. Só a vontade de te ver. Tenho saudades. Da Roma que não conheço.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Ovos frescos, agarrem-me esse cão

Meu amor, nunca te tinha dito que te acho como a um podengo. porque és pequenino. mas rijo. e tens a força. e a potência na voz. também nunca te tinha dito que gosto muito de podengos. porque são pequeninos, mas maciços. porque são alegres e portugueses.

domingo, 9 de agosto de 2009

Diz a rapariga para o rapaz V (Lado B)

Meu amor, queria muito fornicar contigo agora. Mais do que dormir.

Diz a rapariga para o rapaz V

Meu amor, queria muito estar contigo agora. Dorme bem.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Dos coelhinhos que andam por aí

Houve um dia em que o Nuno R se esqueceu da porta da coelheira aberta. Então muitos dos coelhinhos fugiram. Eles eram fofos e corriam depressa. Quando a Eva foi à varanda do seu quarto andar e viu lá em baixo as duas orelhinhas brancas que se agitavam por entre os trevos, meteu-se no elevador e foi atrás delas. O coelhinho era fofo mas corria tão depressa. Quando a Eva parou para descansar, encostou uma mão à parede e deixou que a outra lhe pousasse um pouco abaixo e à esquerda do estômago. Depois olhou em frente e viu a menina. O coelhinho branco já tinha desaparecido há muito tempo, mas a menina tinha uma beleza clássica e telúrica, como disse mais tarde o Nuno R. A Eva resolveu ficar por ali e então percebeu que a pornografia pode mesmo ser erudita, como o valter já lhe tinha dito uma vez, ou como se se pudesse fazer uma playboy com um catálogo de quadros de há dois séculos atrás. Umbigo digo. E depois sigo. Um pouco abaixo do púbis. Alguma coisa aconteceu. Para os senhores da umbigo. Porque gosto deles, porque não são a playboy e porque lhes abusei do slogan. No todo. Ou em parte.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Diz a rapariga para o rapaz IV

Meu amor, faltas-me tu. Mas tu não tens os frutos para mim, porque a nossa árvore não nos deu as flores.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Diz a rapariga para o rapaz III

Meu amor, hoje saíste-me em três pestanas. Já não me deves tardar.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Mensagem do Moderador V

O Coelho Juvenal, moderador deste espaço, web-designer, artista plástico, fotógrafo, dj, escritor, vocalista em seis, não, sete, não, oito, nove bandas, e projecionista, vem por este meio dar-nos a conhecer esta sua última faceta, com a exibição de «meio bicho e fogo», já aqui :

GOVERNO - Meio Bicho e Fogo from 8 e Meio on Vimeo.

e já que o «meio coelho e um kilo de moelas» foi gravado em fita de 6 mm e por isso quebrou logo nos primeiros ensaios, a gerência do eva guna apresenta a todos os cinecoelhófilos as suas mais profundas desculpas, mas é com imenso prazer que vê a estreia absoluta das suas salas ocorrer com este primeiro tema do projecto governo (antónio rafael, miguel pedro – ambos também dos mão morta –, henrique fernandes – também dos mécanosphère – e valter hugo mãe). «meio bicho e fogo», cujo vídeo oficial é uma animação de esgar acelerado (com desenhos de esgar acelerado e sara macedo), está incluído na colectânea «novos talentos fnac 2009», agora à venda. O Coelho Juvenal dá a todos autorização de comprar.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Mensagem do Moderador IV

O Coelho Juvenal diz que sim. Que é bem verdade que a Sandra tem um blogue pessoal. E que, quanto à orgia anti-João Negreiros, diz bem. sábado, 25 de abril, pela noite, em minha casa (da Sandra). só pode quem é anti-TUN e sócio do TUM. abro excepções para os meus amiguinhos da escrita. os meus queriativos. porque a casa é minha, não é? o João (se for anti-TUN e portanto meta) pode aparecer. trazer comida, bebida e assim. trazer objectos, claro. e fósforos. a senha é FAZ AS MALAS E BAZA. Antes porém, comprovar aqui.

Dos livros que ficam por escrever

Olha Juvenal, não digas a ninguém, mas se eu um dia escrever um livro é muito provável que conte lá uma estória. O Juvenal parecia no mínimo aborrecido, mas a Eva acrescentou. O facto do livro conter uma estória não é importante em si mesmo. É como se a estória fosse um suporte para o livro, sem ter de ser o livro a suportar a estória. O Coelho Juvenal, por falta de ombros para encolher, não os encolheu, mas depois pensou. Coitados. Os livros já têm de suportar o peso das estantes por debaixo. E o cheiro a mofo das bibliotecas. E o barulho constante do desumidificador da cave. Foi então que a Eva reparou no ar aborrecido e absorto do Juvenal, estaria amuado? A Eva pensou que se tivesse de lhe mudar o feno, já se teria esquecido de o fazer, era portanto bom não ter lhe mudar o feno. Olha Juvenal, vamos dormir, mas só daqui a um bocadinho. Primeiro encosta aqui a tua cabeça. Então, a Eva e o Juvenal encostaram as cabeças e disseram em coro. Porta-te bem. E não faças nada que não eu fizesse. Depois, o Juvenal achou que já tinha feito mais do que aquilo para que lhe pagam e por isso não fez mais nada. Mas a Eva nunca mais se calava. Olha Vítor, não digas a ninguém, mas ando com vontade de fazer tanta coisa. Ao José Vítor, que se porte bem em Inglaterra.

sábado, 14 de março de 2009

Dos hospitais das bonecas

Estou triste. como uma boneca partida. a desilusão olhou para mim enquanto escorria pelo espelho abaixo. e eu pensei que alguma coisa devia fazer. como baixar-me para me apanhar do chão.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Das vontades

Vamos produzir azeite e pôr filhos no mundo que possam correr por entre as árvores. não mais do que dois. como as nossas mãos que se apertam de suspiros. perdidas na vontade de nos comermos logo ali. no campo.

Eu na ante-estreia da Brasileira

Sim. Carnaval. Venham mais.
Fotografia de Nuno Miranda Ribeiro.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Os cães pretos voltaram e esperam sentados que lhes dê de comer

Quisera eu que os dois fizessem um filho. para que o aconchegasse. fofo. no regaço. um filho fofo. para que perdesse os dedos dissolvidos de pêlo negro. um filho para amamentar com o sangue que vou largando nas ruas. um animal agarrado ao meu peito. com dentes brancos e finos que me rasgam a pele devagar. um animal pequeno agarrado ao meu peito. com o nariz húmido e a língua áspera de tanto me lamber as feridas. com o nariz húmido a farejar o sangue que me cai gota a gota. o vermelho a sujar-me o soutien. o vermelho a sujar o branco. com a língua húmida a lamber-me as feridas. o sangue que cai. gota a gota como a chuva lá fora. para que possa contar o tempo. o animal sentiu o cheiro e tinha fome. é pequeno e tem frio lá fora. geme. húmido. e agarra-se-me ao peito. o sangue que cai. lambe. chupa. devagarinho. os dentes brancos a rasgarem-me a pele devagar. o sangue que cai porque me devo ter magoado muito no caminho. o sangue que me cai lambem-no os cães porque têm fome. quisera que fizessem um filho. um animal pequeno. preto. a falta do calor no regaço.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Os cães pretos voltaram e estão a brincar com um coração I

e depois perguntou. lembras-te de que eu tinha uma namorada? e eu disse sim. e ele disse. é que ela às vezes aparece em casa.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Dos amores de Astrea e Celadon

Quero escrever uma estória de príncipes e princesas que acabe com e assim juntos se comeram felizes e para sempre. Quero que deixem de enganar as criancinhas. Quero que a Astrea e o Celadon se comam. Que se comam e calem e se deixem de conices, que confesso, ontem já me estavam a irritar. Celadon, és tão bonito que te queria conhecer, mas a tua pastorinha sem sal (bonita aliás) não passa de uma menina mimada que bem pode passar os dias a fio chorando gotinhas de orvalho, porque na verdade nunca partiu uma unha, adormece na floresta como quem acaba de enfiar os dedos num buraquinho húmido (mas com cuidado, para não desfazer os caracóis), e tem tanto que olhar para as ovelhas como eu tenho de zelar pelo controlo aéreo. Sim, Celadon, mas tu bem a mereces, porque és um conas, porque te vais atirar ao rio, porque cantas mal e tocas flauta ainda pior (não, eu acho que cantas pior, mas para as horas que passas a tocar bem podias tocar melhor e ter inventado pautas). Celadon, o teu nome fica tão bonito quando é pronunciado em francês. Fica tão bonito e tão coninhas. Tão Celadon. E é tão bonito quando duas raparigas se beijam e uma é um rapaz a fazer de rapariga (Celadon, que também fazes mal de rapariga, diga-se, como o caraças, mas a maquilhagem fica-te tão bem). E é tão bonito quando a Astrea diz que não que não és a Alexis, que não, oh não, que és o Celadon. Vive, vive Celadon. E come a Astrea. Que pode ser que ela assim se cale. Que vocês são tão bonitos. E estão tão bem um para o outro. Como vos imagino. a irem os dois pastar.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

O Moderador ouviu dizer que não só mas também VI

Vamos lá então juntos recitar este belo acordo que nos vai ligar: juro pela vida nunca me trair, juro pela vida sempre resistir, juro pela vida nunca obedecer a qualquer vontade fora do meu ser, juro pela vida sempre acreditar no poder sagrado que nos faz amar. Adolfo Luxúria Canibal e Miguel Pedro (Gumes), em Nus, Mão Morta, 2004

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

O eva guna está em obras

E pede desculpas por qualquer coisinha.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Queremos festa

O eva guna deseja a todos os seus estimados leitores (e também a todas as minhocas) um óptimo 2009, com muita energia e música. Desperta a coelhinha aborrecida que há em ti. Põe uma saia e dança. Fotografia de Maria Rodrigues.